As neurociências têm mostrado que áreas diferentes do cérebro são envolvidas no processamento dos diversos componentes de um texto.
As informações sobre local de ocorrência da ação dependerá da participação de neurônios que definem os sistemas de referência espacial – alo e egocêntrico (vide O Cérebro: Um breve relato de sua função ) – e que se localizam predominantemente no hipocampo (veja o artigo Manuseando Medidas). Para acessarmos as informações dessa área pela linguagem utilizamos as palavras ONDE, AONDE, etc.
O acesso à memória semântica dos nomes se faz predominantemente na região temporal postero-superior, enquanto que o acesso à memória procedural que descreve as ações verbais se faz predominantemente no córtex pré-frontal (Figura 5). A memória semântica está muito associada às perguntas QUEM e O QUÊ. A memória procedural, por sua vez, é muito utilizada para as respostas associadas à pergunta COMO.
As relações temporais descritas na frase podem depender de dois sistemas distintos: a Memória Retrospectiva e a Prospectiva (Figura 6) (veja o artigo A noção de Tempo).
A Memória Retrospectiva guarda as relações temporais dos eventos já ocorridos. Ela fala do tempo passado. Assim, a reunião das crianças para a troca de brinquedos se constitui de uma memória de um evento realizado. As relações temporais desse evento ficam guardadas na região do hipocampo. A memória retrospectiva está muito associada à questão QUANDO.
A Memória Prospectiva, também chamada memória de trabalho, fala do tempo futuro e depende de neurônios localizados próximos uns dos outros no córtex frontal lateral. É a memória usada para planejamento das atividades futuras. Assim, Juca utiliza esse tipo de memória para planejar sua ida à escola no dia seguinte. A memória prospectiva poderá ser ativada pela pergunta QUANDO ou pela questão COMO, pois essa memória define relações temporais de futuro (quando) e planejamento (como).
Por esses motivos, devemos trabalhar com atividades que explorem a compreensão dos textos questionando o quando, como, porque, onde, para que, etc. aconteceram os fatos narrados nas histórias. Cada uma dessas perguntas, quando pertinentes, vão ativar os distintos circuitos neurais envolvidos com o processamento dos diferentes tipos de informações fornecidas pelas histórias. Com isso espera-se ajudar a criança a desenvolver as funções cerebrais adequadas para a análise de textos cada vez mais complexos (Figura 7).
Deve-se lembrar, também, que algumas dificuldades de aprendizagem podem decorrer de disfunção específica de algum desses tipos de memória.
É fundamental ensinar a criança a fazer as perguntas corretas para entender o texto que lê ou que irá produzir. É através do questionamento correto que ela consegue ativar os circuitos neurais relacionados com as diferentes memórias associadas ao conteúdo do texto que está sendo trabalhado.